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Sixckim recorda o dia que a história da música Angolana mudou

Sixckim recorda o dia que a história da música Angolana mudou

Sixckim recorda o dia em que a história da Música Angolana mudou para sempre

Em 1999 foi organizado o primeiro concurso de Miss pela comunidade angolana em Joanesburgo.
Naquele dia o evento prolongou-se e a uma dada altura já não havia mais músicos com capacidade e disponiveis para atuar. Durante o evento na foto (Ali Baba, Killamanjary, Mobakhar, Yuri Smallz, Sixckim) o grupo Killa Hill foi chamado tantas vezes para atuar nos intervalos, ao ponto das músicas do grupo terem acabado.

Foi assim que o grupo todo fez freestyles em palco com beat-box. A pedido do grupo eu fiz um freestyle em francês e cantei várias letras que tinha em mente.

Deste modo o destino transformou o evento em um concurso de Miss com show dos Killa Hill. Depois da coroação da Miss, foi o momento da festa (After Party).

Apartir daquele dia por causa da repercussão que o evento teve na comunidade angolana, com vários écos em Angola e na diáspora, muitos jovens ficaram inspirados e motivados em fazer Rap em português na África do Sul. A maioria esmagadora dos artistas angolanos parou de fazer música em inglês e passaram a fazer em português.

Foi o primeiro grande evento em que se percebeu que era possivel animar o público angolano com Rap Angolano em português feito por artistas residentes no estrangeiro. O público angolano percebeu e passou a acreditar na existência de uma continuidade do Rap Angolano depois dos SSP que tinha editado o primeiro disco de Rap em 1996 “99% de Amor”.

Como consequência, nos anos 2000, 2001 e 2002, em Angola muitos testemunharam a grande “invasão” de artistas angolanos provenientes da África do Sul. Eram tantos artistas que as pessoas em Angola se perguntavam se todos estudantes angolanos residentes na África do Sul cantavam Rap. Foi um dos resultados daquele show (Killa Hill) e concurso de Miss.

Fruto deste grande trabalho dos primórdios do grupo Killa Hill e de mais contemporâneos como os MESS, Grande L, Nelson Mangueira, Nguabi Montel, Cristo Maniacs, África do Sul tornou-se no destino principal para a industrialização da música Angolana no seu todo.

Os artistas angolanos pararam de olhar para Portugal e Holanda como as únicas opções para fazer trabalhos de qualidade e editar discos. Embora que em Portugal, a produtora No Stress de Gutto e Boss AC ainda atraia artistas com possibilidades financeiras para trabalhar com eles como por exemplo o grupo MESS. O impacto foi tão real que a Rádio Nacional de Angola também deslocou-se a África do Sul para entrevistar artistas angolanos como Sixckim, Grande L e outros.

Em 2001 os dois maiores grupos de Angola SSP e O2 criaram o projecto Puro Style “L.I.F.E” e decidiram masterizar e editar o mesmo na África do Sul com o auxilio do engenheiro de som angolano Nelson Mangueira que havia montado um estúdio de música em casa do rapper Mobakar o produtor inicial dos Killa Hill.

Assim sendo, quase todos artistas angolanos vivendo em Angola ou na África do Sul passaram a trabalhar com a África do Sul para gravar, masterizar e editar os CDs de música. Houve uma mudança de paradigma.

Neste contexto de oportunidades surgiu o rapper angolano na África do Sul, o Dr Pam que assumiu a liderança da logistica tendo importado mais de 500 000 discos de artistas angolanos de estilos diversos da África do Sul para Angola nas décadas dos anos 2000 e 2010, incluindo os CDs de Anselmo Ralph, Pérola, Army Squad, Sixckim, Heavy C, Yannick Afroman e muitos outros. O Dr Pam fez o design de mais de 100 capas de CDs de artistas. Foi o designer angolano que mais capas fez.